Viagem por Maramures – Parte I

Conhecida como uma das regiões mais tradicionais da Romênia, com certeza os maiores destaques de Maramures são a beleza natural, a deliciosa gastronomia e a hospitalidade das pessoas que te recebem de braços abertos em todos os lugares!

Aqui, vou contar um pouco sobre a viagem que organizei para minha família e amigos por essa região, em que passamos dias inesquecíveis! Para não ficar uma leitura muito cansativa, escolhi dividir essa viagem em 2 partes: nesse primeiro texto, vou te contar sobre a região, sobre a estrutura da nossa viagem, e o 1º dia de visitas. No próximo texto, contarei sobre os outros dias da viagem!

Vamos viajar por Maramures nessa leitura?

Uma breve história de Maramures:

Geograficamente, a região fica no noroeste da Romênia:

A região de Maramures no mapa da Romênia

Nos tempos antigos a área foi colonizada por celtas, dácios, sármatas e povos germânicos. Fez parte do Reino da Hungria do século XI ao XVI, quando foi destruído pelo Império Otomano. Nesta época, a região ficou sob a administração do Principado da Transilvânia, e no fim do século XVII passou à Monarquia de Habsburg. Em 1867 esta monarquia tornou-se a dupla monarquia Austro-Húngara, e na ocasião a região de Maramures passou a pertencer à parte húngara da monarquia.

Após a Primeira Guerra Mundial, o território foi dividido entre a Romênia e a Tchecoslováquia, mas em 1940 a área torna-se parte da Hungria novamente, país a que pertenceu até 1944. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a parte sul da região voltou a pertencer à Romênia, e a parte norte atualmente pertence à Ucrânia.

Hoje, abriga muitas vilas de tradições seculares que ainda fazem parte da vida de seus habitantes. Mas o que diferencia as vilas de Maramures de outras, são suas igrejas de madeira com suas torres altas que podem ser vistas de grandes distâncias, além dos tradicionais portões, também esculpidos em madeira.

Portão de Madeira em casa na Vila de Sarbi

Como foi nossa viagem?

Ao total, viajamos por 5 dias, sendo que 3 dias passamos em Maramures. Inicialmente, pegamos um voo de Bucareste a Cluj-Napoca, conhecemos a cidade e no dia seguinte pegamos um ônibus de Cluj-Napoca a Baia Mare, a principal cidade de Maramures – foram cerca de 3 horas de viagem.

Por lá, contratamos uma guia que tinha uma van, e foi a melhor forma de viajar pela região! Para o retorno, pegamos um voo de Baia Mare a Bucareste.

Optamos por ir de avião porque tínhamos pouco tempo de viagem, mas se você está lendo esse texto e ainda não conhece muito da Romênia e tem tempo para viajar, recomendo que faça a viagem de carro, com calma, conhecendo os vários lugares lindos que estão no caminho. É possível chegar a Maramures de trem, mas para visitar os lugares que visitei, é bastante complicado de fazer com transporte público – em muitos dos principais pontos não tem como chegar de trem/ônibus, então o carro é de fato a melhor opção.

Por onde passamos?

Demos uma “geral” pela região e pudemos conhecer alguns dos principais pontos, mas se eu pudesse, com certeza passaria mais tempo para conhecer outros lugares e aproveitar melhor tudo que a região oferece. Fica para uma próxima viagem! 🙂

Mas vamos lá, o desenho de viagem que fiz para nós passava pelos seguintes lugares:

Dia 1: Cemitério Feliz (Cimitritul Vesel) e Casa Memorial Stan Ioan Patras, em Săpânța

“Mas Ju, e desde quando um cemitério pode ser feliz?” Pode sim! Pelo menos neste cemitério, isso é possível (mesmo que a chuva tenha tentado nos desanimar).

O Cemitério Feliz de Sapanta

A “felicidade” aqui tem nome e sobrenome: STAN IOAN PATRAS – ele foi um artesão da cidade que começou a tradição de fazer epitáfios para os moradores locais com cruzes de madeira com características muito únicas. E o que isso tem de feliz? Bem, em Săpânța acredita-se que a morte é algo bom, que a pessoa falecida parte para uma nova vida. Além disso, a alegria das cores utilizadas no trabalho de Stan também contribuem para essa felicidade.

O artesão fez mais de 700 cruzes enquanto era vivo, e atualmente o trabalho é feito por um de seus pupilos. Todas as cruzes seguem um mesmo padrão: são feitas de carvalho e pintadas com cores fortes, principalmente o específico tom de azul, conhecido como “Azul Săpânța”. Ao ser perguntado sobre o motivo de usar esse azul, Stan Ioan Patras explicou que era porque o céu era a primeira coisa que ele via ao sair de casa.

Toda cruz começa com um desenho que representa a vida/profissão da pessoa que faleceu, seguida de um texto bem realista, às vezes sarcástico, às vezes engraçado, às vezes um pouco mais sério e triste: na primeira parte, o texto fala sobre quem foi aquela pessoa, e a segunda parte fala sobre como ela morreu. Não há datas, apenas a idade da pessoa ao morrer. Tanto o texto quanto a imagem são feitos pelo artesão responsável, e a família não pode opinar no que será representado na cruz. Assim é a tradição da cidade: todo mundo conhece todo mundo, e todo mundo sabe que o artesão sempre diz a verdade.

Breve tradução do epitáfio de uma das cruzes mais famosas do cemitério:

“Sob essa pesada cruz
Está minha pobre sogra
Se ela tivesse vivido 3 dias mais
Eu estaria aqui e ela estaria lendo
Você que está passando
Tente não acordar ela
Pois se ela voltar para casa
Ela arranca minha cabeça
Mas vou agir da maneira
Que ela não vai voltar
Fique aqui minha querida
Sogra.”

Uma caminhada pelo Cemitério Feliz lendo os epitáfios é como ler um livro de história a céu aberto! E essa aula de história pode ser complementada com uma visita à Casa e Memorial Stan Ioan Patras, a casa onde o artesão viveu, e onde pode ser visto o ateliê onde as cruzes são feitas até hoje.

Se você quiser fazer esse passeio, recomendo cerca de 2 horas para visitar o cemitério e a casa.

Dia 1: Memorial às Vítimas do Comunismo e da Resistência, em Sighetu Marmatiei

Esta visita já não foi tão feliz quanto a primeira, porém, como dizem por aqui: é preciso conhecer o passado para não repetirmos. E vou confessar para vocês, a história é muito bem contada nesse lugar: de forma clara, neutra, com relato de fatos.

O memorial fica na antiga Prisão de Sighetu Marmatiei, que foi construída em 1897, mas a partir de 1945 tornou-se um dos mais temidos símbolos dos crimes comunistas. A partir de 1950, pessoas da elite de guerra da Romênia foram presas aqui: ex-ministros, jornalistas, economistas, políticos, cientistas, todos presos, torturados, muitos mortos. E tudo isso por qual motivo? Pelo simples fato de serem o que havia de melhor em um sistema que os comunistas tentavam destruir a qualquer preço. Infelizmente, poucos sobreviveram às torturas e às condições desumanas de detenção.

A restauração do prédio foi concluída em 2000, e cada cela tornou-se uma sala de museu, representando a cronologia do sistema totalitário na Romênia comunista. As celas são numeradas, e na entrada do Memorial recebemos um livro com o número das celas e uma explicação do que podíamos ver ali. Há celas que mostram como era a vida na prisão: como era uma cela “normal” e a “solitária”, mas outras celas contam a história.

Através delas, conheci um pouco mais sobre diversos assuntos da época do comunismo, como o movimento estudantil na Romênia, a vida de mulheres na prisão, repressão étnica, o dia a dia da população comum, entre outros. Apesar de saber que esse regime existiu, e ter ouvido histórias de pessoas que relatam como era ruim, e outros relatando como era bom, o fato de estar ali e ver na minha frente as celas, as cartas que os prisioneiros enviavam para suas famílias, certidões de óbito, objetos da época e explicação de como funcionavam, tudo isso faz a história muito mais real e nos faz refletir e entender muito mais o país e seu povo.

Na área externa, é possível visitar um monumento em homenagem às vítimas, e o “espaço de silêncio e oração”, onde há uma parede com os nomes de todas as vítimas, e uma área para acender velas e refletir sobre tudo que tínhamos acabado de ver.

É uma visita que sai um pouco da questão tradicional e hospitaleira de Maramures, mas que com certeza vale a pena se você tiver interesse nessa parte da história. Se pretende vir aqui, reserve no mínimo 1 hora, mas se for explorar as celas a fundo, recomendo pelo menos de 2 a 3 horas de visita.

Bom, esses foram os passeios do primeiro dia. Como falei lá no começo, para evitar uma leitura cansativa, vou deixar para contar sobre os outros dois dias da viagem em um próximo texto! Então, fiquem de olho para em breve conhecerem um pouco mais dessa região tão incrível que é Maramures!

Pe curand! 🙂

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